Uma jovem que está com fones de ouvido, e um violão que está pendurado em suas costas, ela parece tranquila, e um sorriso bobo e até um pouco intrigante brinca em seus lábios. Seus passos são firmes, e um pouco apressados, mas ela parece totalmente despreocupada se está atrasada.
Seus passos não ecoam nas ruas movimentadas, mas muitos param, ou passam e olham a garota, que anda pelas avenidas da cidade como se estivesse sozinha, ou em um belo e agradável parque, que aliás, é para onde parece estar se dirigindo. Talvez um parque não defina exatamente para onde ela está indo, ela está indo em direção a uma praça pequena e simpática, que parece ser a única que não foi depredada naquela cidade, talvez porque apesar de se encontrar em uma avenida esteja escondida no meio de prédios comerciais.
Ela chega a praça, que está bela, as folhas amarelas estão caindo no chão, é Outono e a brisa fria sopra bagunçando os cabelos dela, e as folhas das árvores e as do chão, mas mesmo assim a visão da praça e confortadora.
A garota para olhando para o coreto simpático e até um pouco grande e avista os amigos que até um tempo atrás imaginou que tinha os perdido para falsas amigas, e abre um pequeno sorriso. Sobe quase correndo com o violão até eles e os cumprimenta, e então sente uma mão firme segurar a sua e a puxar delicadamente para perto do jovem que chama sua atenção. O sorriso da jovem abre mais, o jovem que está a sua frente é aquele que cativou seu coração, e aquele que ela nunca pensou que teria perto de si, talvez porque não pudesse ter acreditado em si.
-Está atrasada - ele sussurra para ela, que dá uma risada. Ela está sempre atrasada para compromissos, sua mente é distraída, mas sabe que não importa, ele só comenta isso para vê-la sorrir.
-Você também não pode falar muito - é a vez do garoto sorrir com a resposta da jovem, mas antes que os dois se beijem, os outros jovens ali presentes mandam eles sentarem, apesar de tudo, eles tem um trabalho importante para fazer ali.
A garota tira o violão da capa e começa tocar como o combinado, as vozes dos jovens começam a cantar cantigas de esperança, e algumas de amor, mas cantigas que mostram que eles se importam com o seu mundo, e aos poucos uma platéia se reúne para vê-los cantar.
É uma cena incrível, eles procuram trazer não só a esperança nas músicas que cantam, mas também o que cada um aprendeu com o pouco que viveram, o que almejam viver, e talvez até que querem ajudar a humanidade, querem mudar a situação deprimente que nos encontramos em alguns aspectos.
A música, foi proposta pela professora de artes deles, mas o real significado por trás daquele encontro era muito maior. A música que eles cantavam trazia a esperança e a força de lutar contra toda essa impunidade, contra toda essa aceitação pelos males que nos cercam, pela injustiça, corrupção, violência e destruição que há muito tentamos mudar, tentamos extinguir, mas esquecemos que essa mudança começa por nós mesmos.
A música daqueles jovens tenta de algum modo lembrar a quem escuta, que não é esperar que o governo mude, que a burguesia mude, porque eles podem até mudar, mas se o mundo, se nós, que fazemos parte desse mundo, não mudarmos, continuarmos agindo como egoístas que só procuram as coisas boas, as coisas facilitadas, as coisas que não se precisa pensar ou ter esforço para se conseguir, o mundo não irá para frente, ele não mudará.
E eu, que observo aqui de longe, a música destes jovens que são talvez um pouco mais jovens, entendo o que eles querem dizer por trás dessa prece a humanidade por mudanças dentro de seus próprios espíritos, dentro de sua alma, pois se não mudarmos o mundo irá se destruído pela própria espécie humana, que se diz tão inteligente, mas nunca vi inteligência que investe o dinheiro que poderia alimentar milhões de pessoas, em armas que tem capacidade de todo o planeta em menos de um segundo, nunca vi inteligencia que acha bonito não pensar, acha lindo as coisas que a mídia mostra, mas não procura saber o que é real ou não no que é mostrado, nunca vi inteligência que destrói o que os mantem vivos e se matam por coisas que podem ser substituídas. Eu nunca vi inteligência tão burra.
É preciso mudar, não esperar a mudança, é preciso cada um mudar, é preciso eu mudar, você mudar, todos mudarmos, é preciso buscarmos a paz, e não lutarmos por algo que não quer luta, é preciso acabar com guerras e intrigas, é preciso acabar com a destruição. Eu sei, parece impossível, não é mesmo? Para os jovens do coreto, era impossível conseguir plateia apenas para uma coisa de artes que eles precisavam fazer, mas conseguiram, porque quiseram isso e fizeram acontecer. É só nós querermos que aconteça, é só mudarmos e exigirmos mudança dos outros que vai acontecer, e então o nosso mundo poderá viver em paz, e sem o perigo de se auto destruir.
Por B.
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