"Por quanto tempo você acha que pode continuar fugindo e fingindo que tudo está bem?" Essa pergunta com certeza cercava a mente de Alice por onde quer que ela fosse. Agora que seus pés a levavam para algum lugar que ela não conhecia, perguntas e mais perguntas rodeavam sua mente.
Ela nunca foi uma garota que fugia das coisas, mas sabe, ás vezes algumas perguntas fogem do nosso controle, e quando a única certeza que temos é o nosso nome e idade, você pode ter certeza que você começou a pensar um pouquinho mais do que os outros, só que claro, isso também é um problema, por que como vamos entender um mundo tão hipócrita quanto esse, que gosta de apelar a hipocrisia dizendo que ela é uma ótima maneira de evitar conflitos?
Ser sincero sempre não dá? Talvez não, mas ficar sendo hipócrita sempre com essa desculpa é falta de vergonha na cara. E Alice estava pensando nisso e dando um nó na sua cabeça quando achou um rapaz de terno encostado em um poste, ele fumava, e estava com os pensamentos tão longe quanto o dela.
A garota parou apenas por achar curioso ele estar de terno, ás seis e meia da tarde, e por supor que ele era jovem, gostaria muito de saber porque diabos ele estava fumando e ferrando com os pulmões, mas Alice sabia que todos nós temos demônios, e todos lidam de formas diferentes com eles.
-Você deve estar pensando, por que ele está fumando, será que não vê que vai acabar com os pulmões? Deve se perguntar também o porquê eu estou de terno, e deve achar que sou um rapaz de uns 16 anos - o rapaz olhou para ela, que não tinha se apercebido, mas estava parada o olhando.
-Um pouco das duas primeiras, agora da terceira eu não sei, não julgo idade por aparência - ela deu de ombros, e por um momento achou que conhecia o rapaz de algum lugar.
-Eu também me fiz perguntas sobre você, parece que te conheço de algum lugar, mas isso não importa. Você tá fugindo do que? - a pergunta foi direta, e Alice deu de ombros, ele era um bom observador.
-De perguntas, apesar de querer a resposta delas.
-Você tem medo do que pode ser a resposta de algumas delas, certo?
-Na verdade, tenho medo de todas as respostas.
-Já pensou que se temer as respostas, talvez evite as perguntas certas? - ele deu um sorriso enigmático - Ignore o medo, e aprenda com as respostas, não as julgue como boas ou ruins, apenas as compreenda e decida se concorda com elas ou não.
-Mas e se eu não concordar com elas?
-Nenhum grande cientista concordou com as explicações religiosas, o que eles fizeram?
-Foram procurar suas próprias respostas?
-É. Tem medo disso?
-De achar as minhas próprias respostas? Não.
-Então pare de fazer só perguntas e comece a tirar conclusões - ele apagou o cigarro e ajeitou o terno.
-E você pare de fumar - ela falou dando dois passos e parando para ouvir a resposta dele.
-Quando você achar as suas respostas, eu paro - ele sorriu e atravessou a rua. Alice continuou o seu caminho, pensando no que o estranho lhe falara, e tentando descobrir de onde o conhecia. Foi quando lembrou que tinha o noivado de sua madrinha, ela saiu correndo para casa, terminou de se arrumar, e adivinhem quem ela encontrou sentando em uma mesa brincando com as flores da decoração?
-Olha, olha, quem diria, o estranho é ninguém mais e ninguém menos que o Vini - Alice falou sorrindo e sentando do lado dele, o garoto sorriu.
-A última vez que eu te vi você ainda era mais alta, apesar de eu ser mais velho.
-A última vez que nos vimos você estava comendo terra no parquinho, não fumava e eu não tinha milhares de perguntas na cabeça.
-Já achou a resposta delas? - ele a fitou prendendo seu olhar ao dela.
-Estou a caminho - os dois sorriram, e nem perceberam o que estava prestes a acontecer. Talvez porque não importava o que fosse acontecer no futuro, importava o presente, as perguntas que eles ainda não tinham respondido, e naquele momento em especial, colocar a conversa em dia e quem sabe antes de ir pra casa um beijo roubado?
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